Há um aparelho que o ajuda a enfrentar o medo de voar de avião

Tem medo de voar? O seu medo não é completamente infundado e não está sozinho nessa sua dor. Na verdade, estudos internacionais referem que cerca de um terço (entre 20 a 40%) da população adulta tem medo de voar de avião.

A verdade é que viajar de avião produz na maioria das pessoas uma excitação e um nervosismo compreensíveis. A aceleração, a velocidade, a altitude, a vibração e os ruídos característicos do avião são estímulos que ativam naturalmente o sistema nervoso, desencadeando sensações físicas naturais.

O importante é distinguir a ansiedade normal do medo irracional ou fóbico. O medo de voar, também conhecido como aerofobia, começa a condicionar a vida das pessoas e a tornar-se um problema quando a irracionalidade domina a situação e a viagem passa a ser uma fonte de ansiedade e sofrimento que a pessoa não controla.

As definições médicas mais correntes definem a aerofobia como um medo acentuado, persistente e excessivo que surge quando a pessoa é confrontada com a perspetiva de viajar de avião.

Como enfrentar o medo de voar?

No entanto, explorando esta dor e a necessidade de a resolver, uma equipa do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) desenvolveu um dispositivo médico de realidade virtual que auxilia os utilizadores a superar o medo de andar de avião.

O aparelho consiste num par de óculos que permite ao utilizador entrar numa realidade paralela, graças a tecnologia de realidade aumentada, que o põe diretamente em contacto com a sua fobia: uma viagem de avião, durante um voo comercial. Esta tecnologia, que foi trabalhada exaustivamente e ao detalhe, reproduz o medo mas também facilita as ferramentas que permitem solucionar tal medo.

Esta tecnologia permite que, durante a experiência do voo, o psiquiatra ou o psicólogo consigam acompanhar vários parâmetros que ajudam a compreender a progressão do tratamento.

De forma simples, o dispositivo VRCare consegue identificar, em tempo real, os parâmetros vitais que se relacionam com a ansiedade e, através de sinais do corpo, perceber se o indivíduo está ansioso e a reagir em função dessa situação, modificando imediatamente o ambiente em que este está imerso.

A generalidade dos medos ou fobias podem ser tratadas, expondo a pessoa à situação temida até que aquelas se extingam, processo que pode ser rápido ou mais prolongado, dependendo do quadro clínico. Mesmo assim, é importante reter que nem sempre é viável que o psiquiatra ou psicólogo acompanhe o paciente neste processo de exposição.

A ideia para este projeto surgiu quando o psiquiatra Filipe Freitas Pinto começou a procurar soluções de realidade virtual que estivessem preparadas a ser utilizadas na prática clínica. “Espera-se que um dispositivo médico esteja desenvolvido à semelhança de um medicamento”, disse em declarações à imprensa. ”

Ao reconhecer a necessidade de desenvolver um produto que enfrentasse as dores, o psiquiatra levou a ideia aos colegas Tiago Craveiro, João Magalhães, Tiago Alves e André Sousa, um engenheiro e três programadores da empresa Iterar – orientada para tecnologias de informação em saúde -, com os quais já trabalhava, tendo nascido daí o projeto.

“Acima de tudo, e para além dos protocolos de tratamento, o VRCare distingue-se pelo sistema inteligente e dinâmico, que personaliza o tratamento com base na ansiedade detetada”, pretendendo ser “uma ferramenta útil para melhorar a vida das pessoas”, concluiu.

Esta tecnologia foi desenvolvida no âmbito do projeto VRCare, dedicado ao desenvolvimento de dispositivos médicos de realidade virtual dirigidos ao tratamento e reabilitação de doenças psiquiátricas e neurológicas.

O VRCare tem vindo a ser desenvolvido desde 2015  e já integrou o RESOLVE, um programa do i3S que apoia a transferência de conhecimento científico e tecnológico de projetos inovadores e promissores, em estágio inicial.